A figura da ginasta Simone Biles nas Olimpíadas de 2020 acendeu um holofote sobre um tema crucial: a saúde mental no alto desempenho e, por extensão, no ambiente corporativo. O episódio em que Biles abriu mão de competir, justificando a necessidade de cuidar de sua saúde mental, ressoou globalmente, quebrando barreiras e gerando discussões importantes. O esporte, assim como o trabalho, é um campo fértil para a manifestação de questões políticas, sociais e, cada vez mais, de saúde mental.
A decisão de Simone Biles não foi apenas um ato de coragem individual, mas um marco que impulsionou a Forbes a elencar quatro lições de liderança extraídas desse contexto. Essas lições são um guia valioso para líderes e profissionais de RH que buscam construir culturas organizacionais mais saudáveis e sustentáveis.
1. Mesmo os melhores funcionários vão oscilar
A trajetória de atletas de alto rendimento, como Simone Biles, desmistifica a ideia de que a performance deve ser sempre linear e impecável. Se até os campeões olímpicos têm momentos de baixa, por que esperar algo diferente dos colaboradores?
No ambiente corporativo, é comum que colaboradores de alto desempenho sejam vistos como infalíveis. No entanto, eles também são seres humanos e, como tal, estão sujeitos a oscilações de energia, bem-estar e produtividade. O papel da liderança aqui é crucial:
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Ambiente de Segurança Psicológica: Quando um colaborador se sente seguro para expressar que não está bem, isso é um enorme ganho. Indica que o ambiente é propício à vulnerabilidade e ao diálogo aberto.
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Compreensão e Apoio: A forma como um gestor reage a essa vulnerabilidade define o tom da cultura. Compreender que a oscilação não diminui o valor do profissional e oferecer apoio pode ser o diferencial para a retenção de talentos e a recuperação do colaborador.
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Resiliência como Aprendizado: Líderes devem promover a resiliência na equipe, não como a capacidade de “voltar ao normal”, mas como a habilidade de aprender e evoluir a partir das adversidades. A resiliência humana é um processo de transformação que fortalece o indivíduo e a equipe.
2. Grandes Expectativas Podem Levar ao Esgotamento
A pandemia intensificou problemáticas como o Burnout e a exaustão, expondo a fragilidade de sistemas que impõem expectativas irreais. No trabalho, as grandes expectativas podem se manifestar de diversas formas:
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Prazos Irrealistas e Cobranças Excessivas: Designar projetos complexos com prazos curtos, sobrecarregando um único profissional, é uma receita para o esgotamento.
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Expectativas Externas vs. Internas: É vital que líderes ajudem a alinhar as expectativas externas (da empresa, do gestor) com as capacidades e limites individuais do colaborador. Desafiar um profissional com uma habilidade que ele não possui pode gerar sobrecarga em vez de desenvolvimento.
A gratidão, conforme reforça a matéria da Forbes, é uma ferramenta poderosa nesse cenário. Um líder positivo demonstra apreço e reconhecimento compatível com o esforço e a entrega do time, criando um clima que fomenta emoções positivas e, consequentemente, o bem-estar.
3. É preciso coragem para falar quando as coisas não estão certas
A decisão de Simone Biles de se retirar de competições essenciais por questões de saúde mental exigiu imensa coragem. Essa atitude sublinha a importância da segurança psicológica no ambiente de trabalho. Falar sobre o que não está funcionando, seja um processo, uma demanda ou o próprio bem-estar, é um desafio em muitas organizações.
O medo do fracasso, da punição ou de ser visto de forma negativa inibe a comunicação honesta. No entanto, ter a coragem de se expor e dizer “não” ou “não estou bem” é um ato de autoconsciência e autenticidade. O papel das lideranças e do RH é:
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Criar Canais Seguros: Oferecer espaços e canais onde os colaboradores se sintam à vontade para expressar suas preocupações sem receio de retaliação.
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Normalizar a Vulnerabilidade: Líderes que demonstram sua própria humanidade e limitações incentivam a equipe a fazer o mesmo.
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Lidar com as Consequências: Saber como gerenciar as informações e as decisões tomadas a partir de um feedback honesto, garantindo que o colaborador seja apoiado e não penalizado.
4. Ótimo desempenho requer Saúde Mental
Esta lição é a síntese das anteriores: a saúde mental não é um luxo, mas uma premissa para o alto desempenho. O engajamento, o orgulho de pertencer, a dedicação e a produtividade de uma equipe estão intrinsecamente ligados ao bem-estar individual de cada membro.
A história de Simone Biles, que percebeu sua saúde mental fragilizada quando seu corpo não respondia aos seus comandos, é um alerta poderoso. A autoconsciência é um nível de evolução que deve ser incentivado nas empresas. O corpo frequentemente dá sinais do que a mente tenta esconder.
Para líderes e RHs, isso significa:
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Investir em Saúde Mental: Promover programas de bem-estar, acesso a apoio psicológico e treinamentos sobre inteligência emocional.
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Fomentar a Autoconsciência: Incentivar os colaboradores a ouvir seus próprios limites e a buscar ajuda quando necessário.
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Olhar para o Indivíduo: Ir além dos resultados e métricas, compreendendo que por trás de cada número há um ser humano com suas próprias batalhas e vulnerabilidades.
Ao abraçar essas lições, as organizações não apenas cumprem seu papel social, mas também constroem um futuro mais resiliente, produtivo e, acima de tudo, humano.
Como sua empresa tem abordado a relação entre desempenho e saúde mental? Quais são os principais desafios na implementação dessas lições no seu dia a dia?
Dica extra: assista a série documental da jornada de Simone Biles após a sua retirada das Olimpíadas de Tóquio, mostrando a sua rotina de treinos, a sua busca pelo equilíbrio entre a vida profissional e a saúde mental. Com acesso aos bastidores da preparação para os Jogos Olímpicos de Paris 2024, a resiliência e a determinação de Simone Biles em superar desafios, incluindo problemas de saúde mental, e a sua busca por “escrever seu próprio final” nas Olimpíadas.