Em nossa busca incessante por “ser completos”, muitas vezes nos concentramos excessivamente no que nos falta, naquilo que não sabemos fazer ou que não temos. Essa “obsessão em procurar a metade da laranja” é um comportamento profundamente enraizado, que pode ter origens na nossa infância e que impacta diretamente nossa saúde mental e a forma como nos relacionamos com o mundo.

A origem

A psicologia positiva nos ajuda a entender que temos um “setpoint” – um nível de olhar positivo ou negativo sobre as coisas – que pode ser modificado. No entanto, a forma como fomos criados muitas vezes reforça uma mentalidade focada nas deficiências.

A maneira como fomos criados tende a uma internalização de que é preciso ser bom em tudo e que o que já é bom é apenas uma “obrigação”. Essa cobrança para ser “bom em tudo” e “completo em todos os sentidos” se traduz em uma busca incessante pela perfeição, que acompanha o indivíduo ao longo da vida.

Essa constante busca pelo “melhorar nisso” e “melhorar naquilo” gera um mindset fixo, onde nos sentimos “nunca suficientes”. Essa mentalidade se replica em nossas relações, no trabalho e até na criação dos filhos.

Consequências: doenças e autocrítica excessiva

Apesar de nossos pais e cuidadores agirem com a melhor das intenções, a constante busca pelo que falta pode gerar impactos negativos:

  • Insuficiência Crônica: A sensação de nunca ser suficiente pode levar a problemas de autoestima, ansiedade e até doenças psíquicas.
  • Desvalorização dos Pontos Fortes: Em vez de valorizarmos nossos pontos fortes e habilidades, focamos no que nos falta, o que nos menospreza e desvaloriza.
  • Autocrítica Pesada: Em períodos como o da pandemia, a tendência à autocrítica e autocobrança se intensifica. Muitos relatam um nível de energia baixo e um viés mais interno, com pouca percepção de suas qualidades e conquistas.

O olhar para dentro: emoções e agilidade Emocional

A verdadeira transformação começa quando conseguimos olhar para as nossas emoções e entender os recados que elas nos dão.

  • Vínculo com as Emoções: Nossas necessidades emocionais não atendidas na infância podem potencializar a sensação de falta na vida adulta.
  • Nomear as Emoções: O primeiro passo para a inteligência emocional é conseguir nomear corretamente o que se está sentindo. Racionalizar a teoria sem conectar com a emoção impede o desenvolvimento.
  • Agilidade Emocional: A agilidade emocional é a capacidade de identificar o que se está sentindo (raiva, medo, tristeza) e, então, agir sobre isso. Significa perceber que existem muitas possibilidades e que não precisamos seguir sempre o mesmo caminho que gera sofrimento.
  • O Controle do Que É Nosso: Não temos controle sobre o outro, mas temos controle sobre o que é nosso. Desenvolver a agilidade emocional nos permite focar no que podemos fazer para mudar nossa realidade.

A felicidade não é estática: a importância do negativo para o crescimento

É crucial entender que a felicidade não é um estado constante e infinito. A vida é uma “constância”, um “contínuo”, que inclui momentos de dor, tristeza e raiva.

  • O Positivo do Negativo: A psicologia positiva também aborda a importância de abraçar o lado negativo como parte fundamental do crescimento humano. O sofrimento, as frustrações, as dores – tudo isso contribui para nosso amadurecimento emocional.
  • Positividade Tóxica: Evitar as emoções desafiadoras e “tapar o sol com a peneira” com uma positividade forçada (positividade tóxica) impede o autoconhecimento e o desenvolvimento. Não se conectar com o cenário real, com a dor, com a raiva, nos impede de crescer.
  • Aceitar a Totalidade: Precisamos olhar para os dois aspectos da vida: o que nos faz felizes e como colocamos mais disso em nossa vida, e o que não está legal e o que isso fala sobre nós. Lidar com a tristeza e as emoções desafiadoras é tão importante quanto buscar a felicidade.

A busca incessante pelo que falta nos impede de ver o que já temos e o que somos capazes de fazer. O convite é para um mergulho no autoconhecimento, na nomeação das emoções e no desenvolvimento da agilidade emocional, para que possamos construir uma vida mais consciente e plena, aceitando nossa integralidade.

E você, já parou para pensar em como essa busca pelo que falta impacta a sua vida? Como você tem lidado com suas emoções mais desafiadoras?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Graduada em Psicologia pela PUCRS.
Especialização em Psicologia Organizacional pela Fadergs.
Professional Coaching - SLAC - Sociedade Latino Americana de Coaching.
Analista Comportamental DISC Profiler pela Sólides.
Há mais de 16 anos na área Gestão de Pessoas ampliando sua experiência em empresas de varejo, serviço e indústria nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais e Goiás.

Em sua última experiência corporativa atuou como supervisora no processo de folha de pagamento e desenvolvimento de líderes e equipes.

Facilitadora e palestrante nos temas de Educação Corporativa, comunicação e feedback, ensino e aprendizagem e gestão do conhecimento.