Muito se fala sobre a importância de desenvolver equipes. Porém, pouco se discute sobre o ponto mais crítico — por onde começar. Embora essa pergunta pareça simples, a resposta exige profundidade, sensibilidade e, acima de tudo, entendimento do contexto. Porque, afinal, desenvolver uma equipe não é apenas capacitá-la tecnicamente, mas preparar o terreno certo para que ela possa crescer de forma sustentável e integrada.

A importância do contexto: o invisível que determina tudo

Antes de pensar em qualquer ação, é essencial analisar o cenário em que a equipe se encontra. Transições internas, mudanças de liderança, desligamentos recentes ou um clima organizacional instável são sinais claros de que talvez não seja o melhor momento para iniciar um processo de desenvolvimento mais profundo. Forçar esse movimento pode, inclusive, gerar resistência ou ampliar tensões existentes.

Desenvolver uma equipe é mexer em dinâmicas humanas — e, como qualquer sistema vivo, precisa de preparo emocional e estrutural para receber mudanças.

Para entender a realidade atual:

  • O que a equipe enfrenta hoje (desafios, mudanças, clima).

  • O que a organização espera alcançar.

  • Como a liderança enxerga comportamentos e competências necessárias.

Liderança: presença ou ausência que define o sucesso

Um dos pontos centrais discutidos entre profissionais de RH é a participação da liderança nos processos de desenvolvimento. A resposta ideal não é padrão. Tudo depende da relação que esse líder já tem com a equipe.

Se é um líder próximo, empático e aberto, sua presença tende a potencializar o processo. Se é distante, sua participação pode ser uma excelente oportunidade de aproximação. Em ambos os casos, o mais importante é que esse líder esteja disposto a participar de verdade — não como fiscal ou supervisor, mas como parte da equipe em transformação.

De acordo com a consultoria Gallup, 70% da variação no engajamento dos colaboradores está diretamente relacionada à atuação dos seus líderes diretos. Portanto, não é exagero afirmar que não há desenvolvimento real de equipe sem o comprometimento genuíno da liderança.

O papel do autoconhecimento na maturidade do grupo

Um dos erros mais comuns em iniciativas de desenvolvimento é tentar trabalhar o grupo antes de olhar para o indivíduo. Equipes são formadas por pessoas, com histórias, crenças, expectativas e comportamentos distintos.

Promover o autoconhecimento no início do processo cria um solo fértil para o restante do trabalho. Permite que cada colaborador compreenda seu papel, suas reações, seus gatilhos emocionais e, principalmente, como suas atitudes impactam o coletivo. É nesse ponto que começamos a ver mudanças consistentes.

Feedback e comunicação: não são temas, são consequências

Muitos programas de desenvolvimento tentam, desde o início, abordar temas como comunicação e feedback. Mas é importante lembrar que essas habilidades são consequências de relações bem estruturadas, e não causas.

Falar sobre feedback antes de construir confiança é prematuro. Iniciar discussões sobre comunicação sem alinhar as relações interpessoais pode tornar o processo superficial. Por isso, a maturidade do grupo — conquistada com escuta, respeito e vínculo — é pré-requisito para qualquer avanço temático.

Segundo dados da PwC, empresas com cultura estruturada de feedback contínuo têm 14,9% mais produtividade e reduzem em até 15% a rotatividade de talentos. Mas isso só acontece quando o feedback é inserido num ambiente psicologicamente seguro.

20% dos colaboradores brasileiros relatam não receber feedback regular. Organizações do tipo “Great Place to Work” reportam que quem recebe ≥ 3 feedbacks por ano tem resultados muito melhores. O feedback eficaz também contribui diretamente para inovação, confiança e satisfação interna.

Desenvolver para quê?

Outro ponto negligenciado: as pessoas precisam saber por que estão passando por um processo de desenvolvimento. Quando o propósito é claro, o engajamento cresce. Quando é imposto, surgem resistências.

Por isso, alinhar expectativas, apresentar objetivos e co-construir as etapas com os participantes é um diferencial. Equipes que participam da construção do processo tendem a se envolver mais — sentem-se valorizadas, ouvidas e parte do movimento.

Começar pelas lideranças é estratégico

Quando os recursos são limitados, surge uma dúvida comum: devemos investir primeiro nas equipes ou nos líderes?

A resposta mais estratégica é: comece pelas lideranças. Elas têm o poder de multiplicar a cultura, influenciar comportamentos e garantir que o desenvolvimento chegue à ponta. Um líder preparado transforma ambientes. Um líder ausente bloqueia qualquer tentativa de avanço.

Além disso, líderes também formam uma equipe — e muitas vezes essa “equipe de líderes” é negligenciada. Trabalhar vínculos entre eles é fundamental para que as decisões estratégicas sejam coesas e sustentáveis.

Conclusão: não fazer nada também é uma escolha — e tem custo

A decisão de adiar ou ignorar processos de desenvolvimento não é neutra. Quando nenhuma ação é feita, as equipes caminham sem alinhamento, sem propósito comum, sem vínculos fortes. A consequência? Perda de produtividade, aumento de conflitos e rotatividade crescente.

Desenvolver uma equipe exige tempo, investimento e coragem. Mas os ganhos são duradouros: mais engajamento, mais inovação e uma cultura organizacional forte e coerente.

Se a sua organização ainda está na dúvida sobre por onde começar, comece pelo começo: escute, compreenda o momento, envolva a liderança e vá fundo nas relações. O resultado não é imediato, mas é transformador.

💬 E você, já vivenciou processos de desenvolvimento organizacional bem-sucedidos? O que fez a diferença? Compartilhe suas experiências nos comentários!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Graduada em Psicologia pela PUCRS.
Especialização em Psicologia Organizacional pela Fadergs.
Professional Coaching - SLAC - Sociedade Latino Americana de Coaching.
Analista Comportamental DISC Profiler pela Sólides.
Há mais de 16 anos na área Gestão de Pessoas ampliando sua experiência em empresas de varejo, serviço e indústria nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais e Goiás.

Em sua última experiência corporativa atuou como supervisora no processo de folha de pagamento e desenvolvimento de líderes e equipes.

Facilitadora e palestrante nos temas de Educação Corporativa, comunicação e feedback, ensino e aprendizagem e gestão do conhecimento.