A área de Treinamento e Desenvolvimento (T&D) é um universo de desafios e, por vezes, perrengues que testam a resiliência e a criatividade dos profissionais. Desde a famosa demanda por “transformação em 40 minutos” até a falta de alinhamento com a realidade das pessoas, lidar com as expectativas e as necessidades dos participantes é uma arte que exige jogo de cintura e, acima de tudo, empatia.
O Clássico “40 Minutos de Transformação” e a Realidade da Interação
A cena é familiar: o gestor chega com uma demanda entusiasmada – “quero um treinamento para transformar as pessoas em 40 minutos, com muita interação e engajamento”. Para os profissionais de T&D, essa é a versão corporativa da “mágica de apertar um botão”.
O tempo é, muitas vezes, insuficientes para que as pessoas sequer se apresentem e compartilhem suas expectativas, quanto mais para que haja uma “grande transformação”. Existe um princípio em T&D que indica – quanto menor a carga horária dedicada a um tema, menor será a interação e a transformação. Uma palestra de 40 minutos pode sensibilizar, mas dificilmente mudará comportamentos profundamente.
Na Estalo falamos da “Nossa Senhora dos Cronogramas”: A pressão do tempo leva a uma corrida contra o relógio, onde a fala se acelera, vírgulas são ignoradas e temas importantes são tratados superficialmente com a premissa de que “vocês já sabem disso”. O risco? Subestimar o conhecimento da audiência e desvalorizar a própria iniciativa.
Os perrengues que ensinam: alinhamento e acolhimento
A realidade da sala de treinamento muitas vezes diverge do briefing inicial, gerando situações inesperadas que exigem flexibilidade e um olhar humano. Por isso…
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O desapego ao planejado: um dos maiores perrengues é ter que abandonar um cronograma meticulosamente planejado porque o grupo demonstra uma necessidade mais urgente ou uma profundidade inesperada em um determinado tema. A capacidade de “desvencilhar-se” do script para atender ao que o grupo precisa é crucial.
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A necessidade de acolhimento: Um exemplo marcante é o de um treinamento sobre preparação para o mercado de trabalho, onde a realidade era um profundo sofrimento dos participantes por desligamentos. Nesses momentos, a prioridade não é o conteúdo, mas o acolhimento e a validação das emoções. Sem isso, a aprendizagem não ocorre.
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A falta de alinhamento: Outro perrengue comum é quando os participantes chegam ao treinamento sem saber o porquê de estarem ali, ou a organização não “vendeu” a importância daquela iniciativa. A ausência de clareza sobre o objetivo do treinamento mina o engajamento desde o início.
RH como Parceiro e impulsionador da mudança
É importante reconhecer que as falhas não são exclusivas dos profissionais de RH. A complexidade do ambiente corporativo e a pressão por resultados rápidos podem levar a briefings desalinhados e expectativas irreais.
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Confiança na parceria externa: Quando se contrata um parceiro externo, a confiança e a transparência são fundamentais. Compartilhar a realidade, inclusive os desafios de comunicação internos, permite que o parceiro esteja mais preparado e o resultado seja superior.
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Transformando desafios em oportunidades: Os 40 minutos, apesar de limitados, podem ser uma oportunidade para demonstrar a necessidade de mais tempo e investimento em T&D. É um convite para o RH educar os gestores sobre o valor e o tempo necessário para transformações reais.
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O impacto do colaborador: Nada é mais poderoso do que a própria equipe manifestando a necessidade de mais tempo e a importância do treinamento. Esse feedback dos colaboradores é um combustível valioso para que o gestor invista em novas ações de desenvolvimento.
O ambiente faz a diferença: o básico bem feito
Não subestime a importância dos detalhes práticos. A falta de recursos básicos pode prejudicar a atenção e o engajamento dos participantes.
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Checklist essencial: Certifique-se de que o ambiente tem cadeiras, microfone, água, banheiro e materiais de apoio como canetas e papel. Necessidades básicas não atendidas desviam o foco do conteúdo.
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O conforto da experiência: Um ambiente confortável e bem preparado permite que as pessoas se entreguem ao aprendizado, sem preocupações com o suor, a sede ou a dificuldade de ouvir.
A área de T&D é desafiadora, mas profundamente gratificante. Lidar com os “perrengues” é parte da jornada e, com empatia, clareza e atenção, é possível transformar cada desafio em uma oportunidade de aprendizado e crescimento para todos os envolvidos.
Qual foi o perrengue mais marcante que você já viveu na área de T&D? Compartilhe sua experiência nos comentários!
