O mês de setembro, com o Setembro Amarelo, nos lembra anualmente da urgência em debater a saúde mental. Com o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio (10/09) e o Dia de Combate ao Estresse (23/09), a temática ganha ainda mais relevância. É um problema de saúde pública mundial, com profundas raízes sociais, e as organizações têm um papel fundamental em sua abordagem.
A Urgência da discussão no Ambiente Corporativo
Por muito tempo, a saúde mental foi um tema silenciado, especialmente no ambiente de trabalho. Precisou de uma pandemia para que a sociedade, e as empresas em particular, começassem a dar a devida voz e importância a essa pauta. O isolamento social e as incertezas trouxeram à tona a força e o impacto das problemáticas de saúde mental, revelando a fragilidade que muitos carregavam em silêncio.
No entanto, ainda estamos longe de ter clareza sobre como tratar, cuidar e o que fazer diante desses desafios. É fundamental que, como sociedade, aceitemos nossa humanidade e reconheçamos que doenças emocionais merecem a mesma importância e atenção que qualquer outra condição física.
Uma matéria da CNN Brasil, frequentemente citada por especialistas, questiona: “O que falta para normalizarmos o cuidado com a saúde mental?”. A resposta passa por uma mudança de mentalidade e pela adoção de práticas mais inclusivas nas organizações.
Dados alarmantes e a repercussão no ambiente de trabalho
Os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) são contundentes e revelam a gravidade da situação:
O suicídio de uma pessoa pode afetar, no mínimo, seis outras. No entanto, se ocorre no ambiente escolar ou de trabalho, seus efeitos podem atingir um número ainda maior de indivíduos, gerando uma onda de impacto que reverbera por toda a comunidade.
Cerca de 3.000 suicídios ocorrem por dia no mundo. Este número chocante torna o suicídio um grave problema de saúde pública global, muitas vezes tratado como um segredo social devido à falta de diálogo e ao estigma.
A falta de discussão e o desconhecimento sobre como agir diante de sinais de sofrimento mental contribuem para essa realidade alarmante. É crucial que cada pessoa se prontifique a ter um olhar mais cuidadoso, tanto para si quanto para os outros, para transformar essa realidade.
Sinais de alerta e a importância do acolhimento
A saúde mental, assim como a física, manifesta sintomas que podem ser detectados. Antes de um quadro mais grave, como o suicídio, vêm sinais como ansiedade, estresse crônico, esgotamento (Burnout) e depressão. Ignorar esses sinais, seja por falta de informação, preconceito ou rigidez mental (“preciso dizer que está tudo bem”), impede o tratamento precoce e eficaz.
Um ponto crítico a ser desmistificado é a crença de que “quem quer cometer suicídio, comete”. Essa frase perigosa desconsidera o fato de que a pessoa que expressa pensamentos suicidas geralmente está fazendo um pedido de ajuda desesperado. Nesses momentos, o julgamento e a desvalorização podem ser fatais. É essencial oferecer acolhimento, empatia e validação, demonstrando que a vida daquela pessoa tem valor e que ela não está sozinha.
Por que as Empresas precisam agir?
As organizações são ambientes onde passamos a maior parte do nosso tempo, interagindo com colegas, pares e lideranças. Ignorar a saúde mental nesse contexto acarreta diversos prejuízos:
Baixa Produtividade: Pessoas que não estão bem mentalmente estão presentes no corpo, mas ausentes na alma, impactando diretamente seu desempenho e o da equipe.
Perda de Talentos: A falta de suporte e compreensão pode levar à perda de profissionais valiosos.
Impacto no Clima Organizacional: Um ambiente onde o sofrimento é silenciado se torna tóxico e inseguro.
Da mesma forma que investimos em segurança do trabalho e na prevenção de acidentes físicos, é imperativo que as empresas dediquem tempo e recursos à saúde mental e psicológica. A psicóloga Joana Veras, do Instituto de Psiquiatria do Hospital de Clínicas da USP, ressalta: “Normalizar é entender que todo mundo, em algum momento da vida, terá questões importantes de saúde mental.”
Não ter nenhum sintoma emocional ou doença vinculada a questões emocionais é quase impossível. Diariamente lidamos com uma gama de emoções, e a forma como as gerenciamos é crucial. Perseguir uma “felicidade eterna” é uma ilusão; precisamos aprender a nomear e acolher nossos sentimentos, inclusive os desafiadores.
Ações Práticas para Líderes e RHs
Para promover um ambiente de trabalho que acolha e cuide da saúde mental, líderes e RHs devem:
Promover o Letramento Emocional: Educar os colaboradores sobre emoções, gatilhos e estratégias de bem-estar.
Capacitar Lideranças: Treinar gestores para identificar sinais de alerta, ter conversas difíceis com empatia e oferecer suporte adequado. A liderança está próxima do colaborador e pode ser o primeiro ponto de apoio.
Criar Canais de Escuta e Apoio: Disponibilizar serviços de psicologia, canais de ouvidoria e parcerias com plataformas de saúde mental, garantindo acesso facilitado a ajuda profissional.
Fomentar a Autoconsciência (Self-Awareness): Incentivar cada indivíduo a reconhecer seus próprios limites e buscar ajuda quando necessário.
Desenvolver um “Business Case” para Saúde Mental: Mostrar com dados e evidências o impacto positivo do investimento em saúde mental na produtividade, retenção e clima organizacional.
Normalizar a saúde mental é um compromisso contínuo. É entender que cuidar da mente é tão vital quanto cuidar do corpo, e que a vulnerabilidade não é um sinal de fraqueza, mas de humanidade. Ao acolhermos e agirmos, construímos organizações onde todos podem prosperar.
Como você acredita que sua organização pode avançar ainda mais na normalização do cuidado com a saúde mental? Quais são os maiores desafios que você enfrenta ao tentar implementar essas ações?
Conte com a Estalo!